O primeiro filho




      Algum tempo atrás existiu um mistério. Um segredo guardado nas entranhas de Deus. Nas estradas de Onion, num mundo profundo e cheio de enigmas, fui levado em espírito às moradas da vida. Além da minha mente, decifrei a minha alma, e o desenho de sua tonalidade. Eis que vi uma cidade posta à frente. Nela não havia ruas, praças, nem movimentação de nada. Como um paraíso branco, a perfeição de sua forma não era capaz de ser descrita. Senti que ali era o invisível. Mais pensei comigo, por que minha visão não seria suficiente para apreciar os detalhes daquele código secreto? Não vi o meu corpo, não senti as minhas pernas, mais senti que estava flutuando sobre algo leve como as penas de um anjo. Diante do branco profundo, ouvi uma voz que bradava com grande força:



— Sou o que sou, faço o que faço, hoje e para sempre...

Olhei para os quatro lados e não vi ninguém. Mais senti que alguém estava por perto. Aquele lugar era a jornada do céu. O espelho de minha existência, o projeto de minha história. Tenho certeza que não estava dormindo, que aquelas palavras não vinham de minha cabeça. Vi quando duas mãos apareceram sobre o mar de nuvens brancas que subiam. O lugar fumegava como um vulcão a despertar de seu sono. As nuvens começaram a cobrir o ambiente, e aos poucos já não consegui ver mais nada. Um daqueles dedos apontou para mim e a voz de uma melodia começou a tocar:


— Filho eu sou teu pai, eu te formarei com a delicadeza de minhas mãos, serei teu mestre, serei teu professor. Tu serás minhas palavras, a minha sabedoria mora em ti. Eu sou único e eterno, mais agora formarei uma parte de mim, para que o meu lugar não seja vazio. Filho alegre-se por que você será a minha primeira criatura, eu te farei maior que os anjos. O primogênito do meu reino.



— Pai, se eu não estou formado, por que vejo o senhor? Por que sou capaz de ouvir a voz de tuas palavras?



— Por que nesse momento você é a minha palavra, você é a minha visão, o espelho de sua alma mora dentro de mim. Somos dois, e conseguimos nos comunicar pelos sentidos de nossa própria descrição. Somos um.



— Quer dizer que eu e o pai somos um? Se você esta em mim, eu também estou em ti?



— Eu estou em ti nas palavras, mais em breve você estará em mim no espírito, pois seu corpo incorruptível será desenvolvido. Tirarei de mim o teu corpo, tirarei de mim a tua existência.



Quando ele falava essas palavras senti que o meu mundo nascia. Eu era o filho do seu filho, as entranhas de seu projeto. Eu o vi estendendo as mãos para mim, e aos poucos desenhava o meu corpo com delicadeza. Eu senti as suas mãos me modelando. Pela primeira vez como um espelho eu vi o meu rosto. Não conseguia entender por que eu era seu aluno, se era sua sabedoria, por que não poderia ver o rosto do meu pai? Não tinha o privilégio de vê-lo na sua forma física, por que diante de mim, eu observava apenas as suas mãos cobertas de extensas nuvens brancas. Mais estava satisfeito por que era seu filho, e senti que ele era meu pai. O que nos eternizava não eram os processos, mais nossa profunda ligação, eu o seu aluno e ele o meu professor. Mais eu vi meu corpo. Senti-o me desenhando. Vou revelar um enigma a você. Naquela hora eu me vi nele, e ele se viu em mim.

Minhas asas eram formadas, eu testei pela primeira vez minha plumagem celestial. Senti os meus olhos flamejantes como fogo. Eu tinha um poder ilimitado, depois senti que esse poder sempre existiu em mim por que o pai me concedeu. Comecei a voar naquelas nuvens infinitas. Eu voava, e ele acompanhava os meus passos. Ele preparou uma espada resplandecente como o sol. Apareceu diante de mim outra vez... Eu vi seu rosto. Não consigo descrever o total poder que ele representava sobre mim. Pegou a espada e falou:



— Levanta tua espada filho, guerreiro da vitória, leão de Judá, o meu único que enviarei as profundezas da terra. 



Vi que um cavalo branco corria na minha direção, eu era o segundo no seu trono. O filho do seu reinado, o herdeiro da sua realeza. O cavalo parou perto de mim, montei sobre ele. Levantei a minha espada, e corria aos quatro cantos de sua gloria:



— Salvação meu pai! Glorificado seja seu nome!



— Bendito seja meu filho, eternizado seja o seu trono... Somente eu serei maior que ele. 



— E agora pai? O que faremos? 



— Faremos muita coisa juntos, filho. Nossa missão é criar a cidade dos anjos. Eles serão os filhos de nossos filhos, o poder de nosso poder!



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