Uma U.T.I sem localização





     Aquele foi o dia. O dia que achei que todos os meus sonhos acabariam. Nunca imaginei que fosse passar por aquela situação. Cheguei no hospital onde meu filho iria nascer depois de cinco horas de sofrimento. Eram 6 horas da manhã. 

O recepcionista nos atendeu, registrou a entrada e atendimento. Na hora que peguei nas bolsas para levá-la ao quarto onde ficaria aguardando o momento do seu parto, o recepcionista me advertiu logo.


 Disse que eu não poderia entrar, por que os pais não poderiam acompanhar as mães... O hospital estava superlotado, insisti que aquele era meu direito, eu tinha cobertura diante da lei para não só ficar ali, como também assistir ao parto, se assim quisesse. Porém eles continuaram negando essas afirmações. Então convidei a minha cunhada para ser acompanhante de ultima hora, para que a mesma não ficasse sozinha naquela sala de parto. 


Ela aceitou, e o hospital também, por que segundo eles, somente mulheres poderiam ficar naquele local, e mais ninguém. Então despedi de minha esposa com um beijo, e falei para ela que mais tarde, assim que nosso filho nascesse eu iria então olhar para ele, já que o hospital estava me proibindo de assistir ao parto dela.
       
As 10 horas da manhã liguei para minha cunhada para ver se meu filho já havia nascido, e ela disse que não.Pensei comigo por que ainda não havia nascido, e achei até estranho por que as contrações dela haviam começado á meia noite do dia anterior ao parto.


Então eu percebi que algo estava dando errado, e comecei a ficar nervoso. Corri ao hospital, e mais uma vez fui proibido de entrar. Minha esposa tinha um plano de saúde muito bom de cobertura nacional. Porém, mesmo sendo internada com esse plano de saúde, não usufrui do direito que ele me concedia no contrato. 


Injustiça é a palavra que aconteceu naquele dia, negligência e muita omissão de socorro. Quando consegui de fato ver meu filho, foi as 3 horas da tarde daquele triste dia. Entrei naquela sala imunda, onde outras mães pariam seus filhos na frente do meu filho. 


Ele estava com uma máscara de oxigênio em sua cabeça, que não era recomendável para seu tipo de problema. Ele deveria ser entubado, para receber oxigênio por ventilação mecânica. Mais nem isso o hospital teve a iniciativa de fazer, logo o pediatra que é o profissional habilitado para isso, não estava presente na sala de parto, desrespeitando uma norma obrigatória no código de ética médica.
        



Quando o vi naquele estado, comecei de fato a lutar por sua vida, corri nos quatro cantos daquele hospital. 

Reclamei do ocorrido, até que eles se prontificaram em chamar a Pediatra, que apareceu sem graça depois de 3 horas depois que sequelas já estavam estabelecidas no cérebro do garoto. Sem muita sensibilidade ela me deu o encaminhamento para UTI neonatal. 

A próxima falha chama-se " Falta de comunicação".Parece brincadeira, mais mesmo sabendo que a mãe tinha plano de saúde com cobertura nacional, simplesmente eles não acionaram as UTI,s credenciadas do plano. 


Ficaram tentando encontrar vagas do SUS, o que não seria necessário, já que o plano dava cobertura para essa transferência, bastasse o hospital providenciar a viagem. Toda a burocracia da transferência se deu por um único motivo: 

" O hospital não queria se dar o trabalho de ligar para o plano de saúde, ou se responsabilizar na transferência do garoto até a UTI neonatal." 

E talvez o plano de saúde não quisesse arcar com a transferência dele para essa UTI. Nesse caso o que percebi depois de muita análise, é que ambos, plano de saúde, hospital, e médico, foram os responsáveis no caso de Pedro, e por causa da pouca importância que deram a vida de meu filho, ele ficou sequelado com paralisia cerebral e síndrome Epilética Infantil grave.
         
Finalmente depois de 30 horas nessa maca com a máscara em sua cabeça, conseguiu sair do lixo daquele hospital e foi transferido para outro com menos lixo e omissão. 


Colocaram dentro da ambulância, e em vez de levá-lo até a UTI, transferiram para um segundo hospital semelhante, com poucos mais recursos. Eu não pude acompanhar dentro da ambulância, mais minha esposa foi dentro dela sabe Deus como, e o sofrimento que a mesma passou nesses dois percursos até a chegada a UTI foi muito grande. 


As outras 20 horas ele ficou nessa unidade hospitalar, que também não tinha capacidade nenhuma para socorrer bebês com falta de oxigênio cerebral. Pedro nasceu com sofrimento agudo, causado pela demora do parto normal. O que custava esses malditos terem feito uma cesariana em minha esposa? Como são cruéis!
     

Ali os médicos diagnosticaram logo sua clavícula quebrada, e fui logo comunicado dessa falha, onde espalhei o ocorrido nas redes sociais e a cidade em peso ficou em estado de alerta, todos comentando a respeito do caso. Muitas palavras de apoio, muita oração, aquele momento era muito forte. 



Foi quando conseguiu uma vaga na UTI e o milagre de sua resistência fenomenal se revelara na boca da neonatologista que estava de plantão. A mesma olhando para mim, dizia que não estava entendendo nada, por que o estado do garoto era muito grave, e não poderia prometer que ele sairia dali com vida. Mas ele demonstrava uma resistência. 


Os aparelhos tocavam... Aquele som tão triste me causava medo e ansiedade. Medo de vê-lo sair daquele lugar dentro de um caixão, pânico de perder minha família.    Saímos dali sem muitas esperanças. Minha esposa voltou para casa chorando amargamente, estava desesperada, a ponto de enlouquecer. Ela gritava:


— Eu quero meu filho! Eu quero meu filho!


Todos tentavam consolar seu coração, desanimados, esperando a triste notícia de seu falecimento. Então o telefone tocou... Era da UTI neonatal eles estavam procurando a mãe para avisar que desligariam os aparelhos, e que se ele o resistisse iria sobreviver, ainda que com muitas sequelas. 


Eles desligaram os aparelhos, e para nossa surpresa ele resistiu. Conseguiu respirar sem ajuda do mesmo. Minha esposa deu um pulo da cama, e aos poucos seus soluços foram diminuindo, suas mãos trêmulas foram parando. 



Ela trocou de roupa, fez as malas e se preparou para voltar a UTI novamente. Foi quando ouvi uma voz que me dizia assim: “Você viu... Eu devolvi o oxigênio do cérebro do teu filho, eu enchi os seus pulmões com a vida da terra. Você consegue agora entender o que é a vida? Você consegue entender que ela não é movida a substâncias, pois a medicina não poderia ter feito respirar outra vez”.
  

Comente com o Facebook:

Comentários
1 Comentários