O cérebro precisa ser alimentado


   Alimentação. Essa parte é um tremendo desafio para mães que tem filhos com paralisia cerebral e sequelas neurológicas. Sem a alimentação Pedro não aumentaria de peso, não poderia inclusive desenvolver pequenas habilidades que desenvolveu durante os 22 dias que ficou internado naquela UTI. 


Ele só saiu de lá por que sua mãe com muita determinação e fé, treinou a sua sucção tal como uma fonoaudióloga persistente; ele precisava ganhar peso em tempo hábil. Mais como seu cérebro lesionado poderia comandar a sucção se difusamente tudo estava morto, sem nenhuma atividade cerebral, poucas ondas se manifestavam. Parecia um silêncio elétrico do cérebro. 


Quando esse silêncio chega, são indícios de que o cérebro está quase morto. Ele precisa de energia, e só poderá ter novamente suas atividades alimentando-se de leite materno. Pedro mau se alimentava, e às vezes era colocada uma pequena sonda para que o mesmo aceitasse o leite. 


Foi assim que conseguiu boas respostas durante os 22 dias de internamento. O que eu não compreendia como um cérebro tão lesionado seria capaz de comandar tanta coisa em tão pouco tempo. Como por exemplo, pegar no bico do seio materno e mamar como uma criança normal sem que tivesse condição para isso, e por um dia ele fez isso, e nunca mais esse episódio aconteceu outra vez.         



Depois que conseguiu se alimentar dessa forma, recebeu a alta hospitalar em 22 dias, e tudo parecia que ficaria bem no pequeno. Isso por que ele movia os pezinhos, as mãozinhas. Sua clavícula havia se recuperado segundo parecer do ortopedista, então tudo se encaminhava para uma vida sem sequelas gigantes. Mas muitas surpresas dramáticas aconteceram. Perdoe-me... Preciso chorar nesse parágrafo.  [...]
         
Parece comum chorar escrevendo, mais é exatamente assim que me sinto. Quanto mais eu escrevo sobre Pedro Lucas, mais vontade de escrever eu tenho.Muitas pessoas não conseguem ver os mínimos detalhes de uma cena como essa. Uma mãe segurando o seu filho, e sua cabecinha... 


Não  é simplesmente o fato de beijá-lo por que toda mãe o faz, mais a maneira especial de encarar um grande problema sorrindo e brincando.Geralmente não conto as vezes que a peguei chorando sozinha, mais não queria derramar uma gota de lágrima em sua frente. 


Ele não merecia sentir essa tristeza. Ele teria que receber os seus abraços, e mesmo que não fosse uma criança normal, ele não tinha culpa de suas limitações motoras não terem reflexos suficientes para comandar o corpo.Assim o que sua mãe poderia fazer? Algumas mães geralmente não fazem nada, reclamam muito, e as vezes desprezam seus filhos com deficiências e os jogam a mercê da solidão... 


Isso é a verdadeira catástrofe, pois sem alimentação o cérebro começa a atrofiar cada vez mais, e termina vegetando sem nenhuma atividade. Era assim que o cérebro dele ficaria caso não fosse estimulado com carinho e afeto. Não existe terapeuta que possa substituir essa energia. Ele sente que o amamos, e que no fundo não se sente sozinho ou desprezado.


A neurologia descreve bebês hipoxiados e sequelados como incapazes de ter expressões emotivas, e que muitas vezes eles não choram, não sentem nada, não demonstram respostas a caricias e toques, e não expressam estados de alegria, pelo menos os casos mais graves como esses que aconteceram com Pedro. Olhando a imagem acima, é de si pensar que não existe nenhuma história dramática entre essa mãe e esse bebê... 


Por que ambos se olham, ambos se expressam. Eu como seu pai, também tive muitos momentos assim, delicados, expressivos, e ele sentia todas as minhas caricias, todo meu amor. Não pense que quando o pego em meu colo penso em sua limitação. 


Para mim ele é alguém que foi estacionado por pessoas ignorantes e cruéis, ele não é assim, pois no ventre de sua mãe respondia com pequenos chutes o tocar dos meus dedos em sua grande barriga.Parece até mesmo que sou um pouco exagerado demais, e que ninguém nesse mundo perderia tanto tempo escrevendo sobre seu filho como eu escrevo.


Principalmente por que diante de uma criança sem muito movimento, não há o que se escrever. Perde-se os detalhes do beabá, do engatinhar, e das conquistas que geralmente todos tem. Muita das vezes traquinagens, brincadeiras, tudo isso faz parte da infância normal... 


No entanto quando esses filhos nascem assim, pouco se fala sobre eles. Pouco se percebe seus movimentos. Mais meus olhos parecem não serem deste mundo, parecem não enxergar a ótica real que tantos homens enxergam... Prefiro nadar na imaginação de suas expressões, do que estudar suas sequelas. Prefiro amá-lo enquanto ele ainda percebe os meus toques. Certamente nossos dias serão cada vez mais únicos, cada vez mais eternos.



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