A multiplicação dos filhos

                                                         

     Quando ele fez meu corpo eu me senti vivo. Ele encheu a minha existência de poder. Tive o privilégio de ser o primeiro, e de sentar no seu cavalo. Ganhei a sua espada, e herdei o seu trono. Fui o segundo no seu reino, e além de mim nenhum filho seria mais forte do que eu. No entanto ele queria aumentar o número de filhos, e formou os meus irmãos e companheiros. Os anjos de nossa cidade. Antes da formação de meus irmãos, pude observar a arquitetura do meu pai. O desenvolvimento de sua cidade. Fiquei pasmado com tamanha majestade do seu reino. No entanto eu era a humildade, seu aluno eterno. Observava os palácios que cresciam, as ruas que eram desenhadas tal como um quadro é pintado por um artista. Eu vi as suas sete glorias, as fontes da vida que ele preparava. O seu jardim era o palco da beleza, do perfume. Eu estava entre as flores, eu senti o cheiro de suas maravilhas. E saber que eu era seu filho, e ele o meu pai. Não sei por que ele permitiu que eu existisse, mais o seu amor era muito grande. Eu sentia a sua presença constante. Ele jamais me abandonava nunca me desprezou.

Testei a sua cidade, mesmo antes da existência dos meus irmãos da luz. Aquele era o meu lugar, o reino do meu pai, estava cercado de seu afeto, de seu carinho, de seu amor.

Não havia tempo entre nós, mais pude observar a criação de meus irmãos. Foi um momento único. O reino do meu pai estrondou, e como a voz de muitas águas, eu vi o seu mar de cristal. Ali era o lugar onde meus irmãos iriam surgir. O mar resplandecia com uma luz incomparável. Vi quando o meu pai desceu numa nuvem sobre o mar. E no balanço daquelas águas eu vi o seu espírito se movendo. Fui ao seu encontro, e começamos a dar nossas mãos:



— Filho você é meu filho... 



— Pai você é meu pai...



— Sou seu pai, sou seu filho, e as águas desse mar é o nosso espírito. 



— Agora somos três. Pai, filho, espírito santo.



No movimento das águas eu gritava pai, ele dizia filho, e a pomba de seu espírito subiu até o topo das nuvens que cobria aquele mar. Ouvi milhares de vozes que saiam de dentro das águas. Todas gritavam em alta voz:

— Gloria ao nosso pai, louvado seja o seu filho!

— Não adorem a mim, adorem o nosso pai!

— Somos seus irmãos da luz, mais você é o filho primogênito, o herdeiro de seu poder. Devemos honrá-lo assim como honramos o pai.

Milhares de corpos resplandecentes subiam do mar. Alguns anjos tinham sete asas, outros tinham quatro. Vi que entre eles tinha um que se destacava com uma brilhante luz. Radiava de essência, era um maestro primeiro, e o segundo chamava-se Miguel o maestro segundo. O maestro primeiro foi encarregado de reger a multidão de anjos em geral, seu poder era o terceiro no reino do meu pai. O poder de Miguel era o quarto depois de meu pai. Os dois voavam de mãos dadas. A cidade foi inaugurada. Vi os harpistas a tocarem os instrumentos, os mensageiros, os cantores, os escribas, os ilustres da água, do fogo, do vento, os anciãos de dias, os animais que dominavam a floresta dos florais. Os animais eram diferentes dos anjos, alguns não tinham asas. Mais eles adoravam o meu pai, e o reino ficou completo. 

Meu pai fez a reunião, e houve um silêncio no céu. Vi uma multidão que estava ao redor de nossa majestade. Foi quando sentei ao lado do meu pai, ele me deu a sua manta de jasmim. A coroa de sua cabeça. As asas dos anjos abriam e fechava, a nuvem cobriu o nosso altar. Meu pai levantou de seu trono e disse:

— Filhos dos meus filhos... Herdai o reino que tenho preparado para todos. Aqui está o meu filho, ele será o vosso rei, somente eu serei maior do que ele. Todos são frutos de mim, mais ele é o primeiro, e por isso ele será o mestre dos mestres.

Montei no meu cavalo, levantei a minha espada, e fui andando na cidade do meu pai. Ao meu redor milhares de anjos cantavam...

— Viva o rei, filho do pai! Viva nosso irmão mestre... O pai está nele, ele está no pai, e nós o adoramos.



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